Os sete pecados capitais do Benfica 17/18


O lucro acima de tudo

É verdade que os clubes portugueses têm situações financeiras débeis e que o Benfica não escapa a essa fragilidade. A direcção quis fazer desta época uma temporada de encaixes financeiros gigantes. Entre o valor das vendas e das compras, a receita foi de mais de 120 milhões de euros (com o Benfica a abdicar de meia defesa e do guarda-redes). O encaixe para o clube não chega a esses valores, dada a maquia que vai para comissões, terceiros e afins...
Vendas do Benfica superaram em 120 milhões de euros o valor investido em reforços
Até se pode compreender que o Benfica seja mais austero para equilibrar as contas. Mas não o deveria ter feito na época em que o acesso à Liga dos Campeões iria ser mais restrito, já que o efeito pode ser recessivo. O Benfica corre o sério risco de ficar de fora dos milhões da Champions e sem a cesso à principal montra para valorizar jogadores. É caso para dizer que o barato vai sair caro.

O Manel vai à baliza



Há quem diga que um bom guarda-redes é meia equipa. Se há posição em que não se pode facilitar é na baliza. A opção pelo encaixe financeiro a todo o custo e gastos mínimos levou a que a direcção não garantisse uma solução à altura para render Ederson (nem outros elementos-chave do sector defensivo). 

Encostou-se Júlio César a um canto e lançaram-se dois jovens às feras em jogos a doer. Acusaram a pressão e nunca deram sensação de segurança. A defesa nunca teve a estabilidade de saber que a retaguarda estava protegida, já que quando os guarda-redes eram chamados a actuar era tudo a tremer como varas verdes.

Vale o que vale, mas esta análise do Goalpoint mostra a diferença que um guarda-redes pode fazer na classificação final. E basta recordar nas temporadas anteriores a forma como Ederson e, antes dele, Oblak e Júlio César, garantiram muitos pontos aos encarnados. 

Partir os rins ao Luisão

Não há dúvida de que Luisão é uma das maiores figuras de todos os tempos do Benfica (o jogador com mais títulos e um dos que têm mais jogos pelo clube). O capitão ajudou os encarnados a recuperar a mística ganhadora desde que chegou à Luz em 2003. No passado, marcou golos decisivos e fez exibições gloriosas. 

Mas a idade já pesa. No início da época, a titularidade do veterano obrigou a defesa a não poder jogar subida devido à falta de velocidade de um dos seus elementos. Essa opção contribuiu para que a equipa não fosse compacta, atravessando sérias dificuldades na primeira fase da época. 

E a ideia de colocar um jogador de 37 anos numa "final" após quatro meses de paragem é meter uma instituição do Benfica em risco de ser enxovalhada e de se apagar da memória o muito que Luisão deu ao clube. A gestão da carreira do central deveria ter sido diferente. 

Alguém da tão falada estrutura poderia ter convencido o capitão a retirar-se dos relvados em grande no final da época passada e a assumir um outro cargo no clube em que continuasse a assegurar a mística benfiquista. Ou, no mínimo, não lançar o capitão em jogos decisivos ou contra avançados rápidos (jogos da Champions, por exemplo), de forma a protegê-lo e à equipa.

Gregos para concretizar (sem Jonas)

Sem Jonas, a equipa do Benfica tem dificuldades em fazer golos nas ocasiões de que dispõe. Entre os três grandes, os encarnados até são a equipa com maior eficácia de remate. Fazem golo em 14,8% dessas ocasiões. Mas excluindo Jonas da equação, o grau de acerto da equipa desce para 11,4%, bem abaixo dos outros rivais. 

O problema é que, como ficou provado na época passada, Jonas precisa de uma gestão cuidadosa da condição física. E o Benfica abdicou de Mitroglou por 15 milhões de euros. O grego até tem sentido dificuldades para se impor em Marselha. Mas na liga francesa facturou em mais de 19% dos remates que fez (oito golos em 41 remates). 
Excluindo Jonas, o Benfica factura apenas em 11% dos remates. Mitroglou fez golo em mais de 19% dos remates na liga francesa.
Dado esse grau de eficácia, a apetência por marcar em jogos decisivos e a condição física delicada de Jonas, o Benfica perdeu, por pouco mais de 10% do encaixe com vendas desta época, um ponta de lança clínico e que dá pontos. 

Hesitações tácticas



O 4x4x2 do tetracampeonato já estava gasto. Menos qualidade individual na equipa, a quebra de forma de elementos como Pizzi e os problemas físicos de Fejsa levaram à falência dessa disposição táctica. Em Novembro, o Benfica já parecia ter dito adeus a tudo o que era competição relevante.

Mas, nesse mês, Rui Vitória decidiu-se em mudar para o 4x3x3, entregando a batuta primeiro a Krovinovic e depois a Zivkovic. O rendimento dos encarnados melhorou e permitiu ao Benfica ir para o clássico decisivo a depender de si próprio. Mas se esta alteração táctica tivesse sido feita mais cedo, poderia ter-se evitado a humilhação europeia e o correr atrás do prejuízo na liga.

Mercado de Inverno congelado

Ok. É normal que em todas as organizações se cometam erros de avaliação. O que já roça o desleixo é não admitir essas falhas nem tentar corrigi-las. Depois do desastre que foi o planeamento da época, o Benfica nem sequer aproveitou o mercado de Inverno para reforçar posições críticas na equipa, como a baliza, o centro da defesa, duas alternativas para as laterais, uma solução para o meio campo (depois de inexplicavelmente se ter cedido André Horta) e um ponta de lança com eficácia à Jonas e Mitroglou.

Bloqueios contra o FC Porto

O Benfica recuperou de uma grande desvantagem na liga face aos azuis e brancos e poderia ter dado a estocada final no clássico de 15 de abril. Mas perdeu um jogo em que o treinador aparentemente tentou defender um empate e em que se equivocou nas substituições, ao tirar Rafa (o único jogador que conseguia fazer uma transição ofensiva). 

Desde que Rui Vitória chegou à Luz os embates com os azuis e brancos sempre foram marcados pelo muito respeitinho. O Benfica faz apenas 0,5 golos por jogo contra o FC Porto.

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