Os bravos de Alcântara da temporada 74/75


Entras mal no jogo. Levas três sem resposta. Mas num assomo de orgulho vais buscar forças sabe-se lá onde e ainda consegues dar a volta ao texto e levar a vitória para casa. É um cenário raro no futebol (a menos que se tenha Zlatan como os LA Galaxy). Mas que foi alcançado pelo Portimonense este fim-de-semana. Os algarvios viraram um 0-3 para um 4-3 diante do Moreirense. Para se encontrar um feito igual no campeonato nacional é preciso recuar até outubro de 74, quando o Atlético Clube de Portugal recuperou de uma desvantagem pesada no terreno do Olhanense.

A turma de Alcântara estava a perder por 3-0 aos 47 minutos. Mas, como na música de Zeca Afonso, o Atlético mandou vir cinco de uma assentada, virando para 3-5 em menos de 45 minutos. Foi uma das últimas grandes equipas da Tapadinha, um histórico do futebol português que tem passado por décadas conturbadas e que está actualmente nos distritais. 

Os bravos da Tapadinha

O plantel do Atlético CP de 74/75 contou com jogadores que passaram pelos grandes e que até chegaram a representar a Selecção. O grande artilheiro da equipa nessa temporada foi João Moniz, que chegou à Tapadinha vindo do Sporting. Fez sete golos no campeonato, ajudando a turma de Alcântara a terminar a liga no 11.º posto.

Na frente de ataque, o Atlético contava ainda com Félix Guerreiro. Começou a carreira no Benfica a meio da década de 60. Mas não teve muitas oportunidades de ir a jogo, dada a concorrência de lendas como Eusébio e José Torres. Antes de chegar à Tapadinha, já na fase final da carreira, esteve sete temporadas em Setúbal e representou a Selecção por três vezes.

No meio campo do Atlético jogava a promessa António Nogueira, nascido e criado para o futebol em Alcântara. Fez o quinto golo naquele confronto com o Olhanense. O médio confirmaria os seus créditos no futebol português, representando depois clubes como Boavista, Belenenenses e Sporting. Conquistou uma Taça de Portugal pelos axadrezados e dois campeonatos pelos verde e brancos. Representou a selecção das quinas em dois amigáveis e até fez o gosto ao pé numa partida contra Espanha. Nogueira terminaria a carreira ao serviço do União de Almeirim.

Na defesa, uma dos mais experientes era Francisco Caló. O defesa chegou à Tapadinha já na fase final da carreira, depois de várias épocas no Sporting e com dois campeonatos e uma Taça no currículo. Ainda fez um jogo pela Selecção na fase de apuramento para o Europeu de 72.  Na defesa, a experiência de Caló era complementada com a juventude de José Eduardo. O lateral, da cantera da Tapadinha, chegaria anos mais tarde ao Sporting, passando quatro temporadas em Alvalade. Nos verde e brancos ajudou à conquista de dois campeonatos e uma Taça de Portugal. 

Outra das grandes figuras desse Atlético era Vítor Esmoriz, médio que viria a ser uma referência do Belenenses e que viria a integrar o plantel do Sporting que conquistou o título em 1982.

Uma das últimas grandes equipas do Atlético

O Atlético 74/75 foi uma das últimas grandes equipas dos alcantarenses. As jovens promessas desse plantel seguiram outros voos e os veteranos que serviam de referência foram pendurando as chuteiras. Duas épocas depois o clube não se livraria do último lugar no campeonato, descendo de divisão. 

O clube, que em tempos já remotos chegou a ser visto como o quarto grande, nunca mais regressaria ao principal escalão do futebol português. Está actualmente mergulhado numa crise e em confusões entre SAD e clube, arrastando-se pelos campeonatos distritais.

Para quem quiser saber mais sobre este grande de outros tempos:

  

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