Antes do consulado de Jesus nas rédeas dos encarnados, o Benfica coleccionou dez treinadores em doze anos, não contabilizando com as alturas em que Chalana assumiu interinamente o cargo. Quais os treinadores que nunca deviam ter passado pela Luz e os que nunca deviam ter saído do banco dos encarnados? Os exemplos dos treinadores dispensados no passado indicam que o Benfica fez bem em manter Jorge Jesus no comando da equipa?
Quique Flores
O espanhol chegou à Luz em 2008 para substituir Camacho. Isto depois de ter dado nas vistas no Valência, onde ganhou uma Taça do Rei. Passou apenas uma época no Benfica, saindo no final da temporada. Não conseguiu melhor que um terceiro lugar a 11 pontos do primeiro, apesar de ter um plantel de luxo à disposição. Após a saída dos encarnados, Quique Flores foi para a Atlético de Madrid, onde ganhou uma Liga Europa e um Supertaça Europeia. Actualmente, treina o Al-Ahly nos Emirados Árabes Unidos. A equipa segue no segundo lugar no campeonato árabe, a 11 pontos do líder.
José António Camacho
O antigo seleccionador espanhol teve duas passagens pelo Benfica. Na primeira, entre 2002 e 2004, ainda conseguiu conquistar uma Taça de Portugal frente ao Porto de
Mourinho. Chegou à Luz vindo da selecção espanhola e com bastante
crédito entre os adeptos. Nessas duas temporadas, não resistiu ao
fenómeno Mourinho, acabando no segundo lugar do pódio (a 11 pontos em 2003 e a oito pontos em 2004). Saiu do
Benfica para ter uma passagem muito breve pelo banco do Real Madrid e
regressaria à Luz em 2007. Mas acabaria por se demitir em Março de 2008,
após um empate a duas bolas com a União de Leiria. Argumentou que a
equipa não reagia ao seu comando e o seu lugar foi assumido por Fernando Chalana até ao final da temporada (o antigo extremo é agora adjunto nas camadas jovens do Benfica). Camacho retomaria a sua carreira no Osasuna, de onde seria despedido. Actualmente é seleccionador da China, tendo comprometido o apuramento da equipa para o Mundial 2014.
Fernando Santos
O engenheiro que conquistou o penta para o Porto, durou pouco mais de um época no Benfica. No início do segundo ano na Luz, foi demitido logo após um empate contra o Leixões no início do campeonato. Isto depois de ter ficado em terceiro lugar na Liga a dois pontos do campeão Porto. Mais tarde, Luís Filipe Vieira reconheceu que errou nessa decisão. Apesar da passagem sem glória pela Luz, é considerado um dos melhores treinadores do futebol grego, com boas campanha ao serviço do AEK e do Paok. O prestígio valeu-lhe o cargo de seleccionador grego, tendo feito um Europeu positivo. Mas a caminhada para o Mundial está a revelar-se difícil. A Grécia segue em segundo lugar no Grupo G, com menos três pontos que a Bósnia e mais dois que a Eslováquia.
Ronald Koeman
Em 2005 o Benfica apostou em Ronald Koeman para dar seguimento ao título recuperado na época anterior por Giovanni Trapattoni. Após o futebol resultadista da Velha Raposa, o objectivo da contratação era conseguir um estilo de jogo mais atractivo. Ou não tivesse sido Koeman campeão holandês com o Ajax e discípulo de Van Gaal no Barcelona (onde integrou a mesma equipa técnica de que fazia parte Mourinho). O holandês apostou tudo nas competições europeias e conseguiu chegar aos quartos-de-final da Liga dos Campeões, caindo aos pés do Barcelona. Já na liga doméstica, não foi além de um terceiro lugar a 12 pontos do Porto. Sairia da Luz, sem grande resistência da direcção dos encarnados, para assumir o cargo de treinador do PSV, onde foi campeão na época seguinte. Viria ainda a ganhar uma Taça do Rei pelo Valência e actualmente está no Feyenoord. Segue em luta renhida com o PSV pelo segundo lugar no campeonato.
Dispensa apresentações. Aquele que é um dos treinadores mais titulados da História chegou ao Benfica em 2004/2005 após um consulado sem resultados ao leme da Squadra Azurra, onde participou no Mundial 2002 e no Euro 2004. Em apenas uma temporada na Luz, aplicou o seu estilo defensivo e resultadista para levar um plantel não muito forte a reconquistar o campeonato, algo que fugia aos encarnados desde 1994. Após a conquista do título, a Velha Raposa saiu do Benfica, alegando que a família queria que ele regressasse a Itália e se retirasse do futebol.
Mas o amor pelo desporto-rei falou mais alto que as questões familiares e em 2005 assinou pelo Estugarda, enfurecendo a sua esposa. "A minha mulher acusou-me de amar mais o futebol do que a ela", confessou Il Trap. Após a passagem pelo futebol alemão, viria ainda a conquistar uma liga austríaca. Desde 2009 que é o seleccionar da Irlanda. Ficou a uma unha negra de levar a equipa ao Mundial de 2010, eliminado pela França num play off de arbitragem duvidosa, e garantiu o apuramento para o Euro 2012, onde viu a sua frágil selecção ser trucidada. Aos 74 anos, Trap continua no activo e tenta colocar a Irlanda novamente num Mundial. Mas a tarefa está difícil. Está a oito pontos da líder do grupo C, a Alemanha, e trava um duelo intenso com a Áustria e a Suécia por uma vaga nos play offs.
Jesualdo Ferreira
O professor foi promovido a treinador principal dos encarnados após a saída de Toni a meio da temporada de 2001/2002. Tinha acompanhado a antiga glória do Benfica para mais uma passagem pela Luz com o objectivo de reeditar o sucesso que esta dupla havia conseguido em 1994, desempenhando as funções de coordenador do futebol de formação dos encarnados. Com a saída de Toni, Jesualdo tentou colar os cacos da equipa, mas acabaria a primeira temporada em quarto lugar a 12 pontos do campeão Sporting. Não duraria muito mais tempo no banco, com a estocada final a ser dada por um tal de Cílio Souza, do Gondomar, que eliminou os encarnados da Taça de Portugal em plena Catedral no final de 2002. Seria substituído por Camacho. Após a saída do Benfica, Jesualdo construiu o super-Braga e foi tricampeão com o Porto.
Toni
Após o processo eleitoral que depôs Vale e Azevedo, Manuel Vilarinho apostou as fichas todas em Toni para reeditar o sucesso de 1994, descartando a oportunidade de continuar com Mourinho. No entanto, os planos saíram furados. A antiga glória do Benfica ficou ligada a uma das piores épocas de sempre do campeonato. Assumiu o comando da equipa a meio da época de 2000/2001 a dez pontos da liderança e terminou em sexto a 23 pontos do líder Boavista Na época seguinte as coisas não correram muito melhor. Saiu da Luz no final de 2001, após um empate caseiro com o Sporting e uma derrota com o Boavista, deixando a equipa no quarto lugar a cinco pontos da liderança.
Após a má experiência, Toni não voltou a treinar em Portugal, tornando-se numa estrela do futebol em paragens exóticas. Passou pelos relvados egípcios, chineses, da Arábia Saudita, dos Emirados Árabes Unidos e do Irão. Pelo meio ainda foi observador da selecção da Costa do Marfim.
José Mourinho
Foi um dos últimos actos da gestão de Vale e Azevedo e aquele que mais impacto teve no futebol mundial. Com a equipa em fanicos e a arrastar-se num sétimo lugar no campeonato à quarta jornada, o Benfica contratou um desconhecido que integrava a equipa técnica do Barcelona. José Mourinho tentou reorganizar a equipa e em nove jogos no campeonato conseguiu cinco vitórias, duas derrota e dois empates. O maior triunfo foi um 3-0 ao Sporting, que o levou a exigir um aumento salarial que foi declinado, já que a nova direcção de Vilarinho estava apostada em trazer Toni. O resto da história é sabida. Fez um trabalho excepcional no Leiria, levou o Porto à glória europeia e é um dos melhores e dos mais cobiçados treinadores do mundo.
Jupp Heynckes
Em 1999 o Benfica aposta forte no treinador e contrata o alemão Jupp Heynckes que trazia uma Liga dos Campeões no currículo. Mas nem aquele que é o obreiro da equipa mais forte da actualidade, o Bayern de Munique, conseguiu bons resultados na Luz. Acabaria a temporada 99/00 em terceiro lugar a oito pontos do campeão Sporting. Na época seguinte foi o descalabro e seria despedido após um dos piores arranques de sempre do Benfica. Curiosamente, dois dos melhores treinadores mundiais do momento, estiveram na pior época se sempre dos encarnados.
Apesar de ter saído da Luz sem honra nem glória, Heynckes conseguiu relançar a carreira. Fez trabalhos positivos no Athletic de Bilbao, no Schalke 04 e no Bayer Lerverkusen que lhe abriram as portas do Bayern de Munique. A cumprir a segunda temporada nos bávaros, o treinador tem a oportunidade de juntar a Liga dos Campeões ao campeonato, depois de ter perdido tudo nos últimos momentos da temporada passada.
Graeme Souness
O escocês foi a primeira grande aposta de Vale e Azevedo. Mas a sua passagem pela Luz esteve longe do brilhantismo da sua carreira como jogador do Liverpool. Em duas temporadas, entre 97 e 99, não conseguiu conquistar nenhum título. No primeiro ano foi vice-campeão, mas com uma distância de nove pontos para o Porto. Na segunda temporada, o registo foi ainda pior, com um terceiro lugar, a 14 pontos do primeiro classificado. Depois da saída do Benfica, orientou o Blackburn Rovers e o Newcastle. Mas a vida no banco de suplentes aparenta não ser talhada para Souness que não treina desde 2007. Para piorar a situação viu-se envolvido num escândalo de pagamentos ilegais em transferências quando treinava o Newcastle. Apesar de nada ter sido provado em relação a alguma ilegalidade feita e de Souness ter defendido a sua inocência, a carreira do escocês foi afectada. Actualmente, dedica-se ao comentário desportivo na Sky Sports, na ESPN e na Al-Jazeera.
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