O que é feito de Sven-Göran Eriksson?

Eriksson é, a par de Béla Guttmann, o treinador que conseguiu alcançar mais finais europeias pelo Benfica. O treinador sueco conseguiu levar os encarnados à final da Taça UEFA em 1983 e ao jogo decisivo da Taça dos Campeões Europeus em 1990. Em ambos os encontros não resistiu à maldição de Guttmann, perdendo as finais para o Anderlecht e para o todo-poderoso Milan de Rijkaard e Van Basten. Em quatro finais europeias na sua carreira, Eriksson perdeu apenas estas duas. 

O treinador sueco é um dos exemplos de como no futebol, e na vida, não se pode dar nada por adquirido. Apesar de ter começado como adjunto de um clube sueco de divisões secundárias teve uma ascensão meteórica e chegou a ser considerado um dos treinadores de top mundial. Após pendurar as chuteiras (onde nunca saiu dos escalões inferiores do futebol sueco), Eriksson teve a sua primeira experiência no banco de suplentes como adjunto do modesto Degerfors. Passou depois a treinador principal da equipa, tendo conseguido promover o clube à II Divisão do futebol sueco. 

Da terceira divisão sueca para o Benfica
Apesar de estar nos escalões secundários, os dirigentes do IFK Gotemburgo reconheceram potencial no então jovem treinador e contrataram-no em 1979. E em boa hora, já que em quatro épocas Eriksson levou o clube ao top do futebol europeu. Um caminho que culminou com uma vitória por 4-0 na final da Taça UEFA em 1982 frente ao Hamburgo. O feito do sueco não escapou ao então presidente do Benfica, Fernando Martins, que procurava um substituto para Lajos Baroti. Contratou Eriksson. E nessa primeira passagem pela Luz, onde o treinador passou dois anos, os encarnados amealharam dois campeonatos, uma Taça de Portugal e chegaram à tal final azarada da Taça UEFA.

Os resultados levaram a que o país que se gaba de ter os melhores tácticos do futebol mundial recorresse aos serviços do sueco. Rumou a Itália, onde orientou a Roma durante três épocas, vencendo uma Taça de Itália. Passou ainda duas temporadas na Fiorentina. Com poucos títulos na mala, Eriksson regressou ao Benfica em 89, para uma estadia de três anos na Luz. No segundo acto do sueco no Benfica, Svennis venceu um campeonato e chegou à final da Taça dos Campeões Europeus. Contabilizando as duas passagens de Eriksson pelo Benfica, chegou a duas finais europeias em apenas cinco temporadas.

A glória na Lazio e as derrotas com Scolari
Após as novas campanhas pelo Benfica, o futebol italiano voltou a deixar-se seduzir por Eriksson. Na segunda ronda do sueco por Itália, os resultados apareceram. Conquista a Taça de Itália em 94 com a Sampdoria. Em 2000 leva a Lazio ao Scudetto, juntando na mesma época a conquista da Taça de Itália. Foi o primeiro treinador a conseguir fazer a dobradinha em três países diferentes (Suécia, Portugal e Itália). Antes desse feito, havia já conquistado para a Lazio duas Taças de Itália, uma Taça das Taças e uma Supertaça Europeia.

O sucesso no país da táctica levou a que Inglaterra o contratasse como seleccionador. O primeiro estrangeiro de sempre no cargo conseguiu um apuramento que estava complicado para o Mundial de 2002. Nessa competição caiu nos oitavos-de-final aos pés do Brasil de Scolari, que viria a conquistar o título. Em 2004 e 2006, Eriksson esbarrou novamente no Sargentão. Inglaterra foi eliminada destas duas competições pela Selecção Portuguesa. Após o cargo na selecção inglesa, Eriksson ainda passou pelo Manchester City em 2007/2008 e pela selecção do México, onde foi despedido em 2009. Pelo meio, ainda houve negociações para um terceiro regresso à Luz, mas o banco dos encarnados acabaria por ser ocupado por Quique Flores.

México, Costa do Marfim, Tailândia e Arábias no passaporte
A partir daí, foi sempre a descer. Passou pelo Notts County, um clube do terceiro escalão inglês. Teve a oportunidade de participar noutro Mundial de Futebol com a selecção da Costa do Marfim, mas não passou da fase de grupos, sendo ultrapassado pelo Brasil e por Portugal. Depois disso veio mesmo a queda a pique. Orientou o Leicester na segunda divisão inglesa, e apesar dos avultados investimentos do clube para conseguir a promoção, Eriksson não conseguiu abandonar o meio da tabela e acabou por lhe ver apontada a porta de saída.  

Após estes desaires, o treinador chegou à humilhação de ver currículos rejeitados por clubes como o Leeds. Com a falta de oportunidades, a carreira do sueco regressou praticamente ao ponto de partida. Foi director técnico dos tailandeses do Tero Sasana e actualmente, aos 65 anos, é coordenador técnico dos árabes do Al-Nasr. Merecia um final de carreira mais perto do sucesso e dos grandes palcos. Mas quem sabe se a perspicácia e a força de vontade que o levaram de um modesto clube sueco ao top do futebol mundial não irão acabar por prevalecer novamente... Até porque ainda tem alguns ajustes de contas por fazer, principalmente com Scolari. 

Foto: Glanell Thomas,år med Svensk Fotboll 1904-84 (via Soccer Nostalgia

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