E se Chiquinho não tiver idade?


Amor, música, arte, desporto, cinema: o que é bom não tem idade.

A Portugal, Chiquinho chegou com 23 anos em 1986. Deixara para trás o Flamengo onde conhecera Ubaldo Fillol, Zico, Mozer e Bebeto. Mais para trás estavam Taquaratinga e o Botafogo de Ribeirão Preto. Entrava no Benfica e, embora não o soubesse, num país que continua para sempre no seu coração. Na Luz teve tempo de ser goleado (pelo Sporting) e campeão, vencedor da Taça e finalista da Taça dos Campeões: estava pronto para a segunda série de penalties com o PSV em Estugarda, mas Van Breukelen resolveu que Veloso seria o último a marcar. Não lhe faltava talento, jogasse à direita em velocidade ou pelo meio a serpentear, entortando defesas com a mesma simplicidade do sorriso tímido que nunca perdeu.

Nesse ano de 1988, quando quiseram Ademir Alcântara, os dirigentes benfiquistas consideraram que podiam incluir Chiquinho no negócio e Guimarães tornou-se a paragem seguinte para quem chegara apenas dois anos antes. Ficou três épocas - a marcar, a encantar, a sorrir. Braga também o quis e, durante duas temporadas, deixou marcas. Era já a década de 90 e houve tempo para Setúbal. A "Magical Mistery Tour" prosseguiu em Viseu entre 1995 e 1997. Chiquinho passava pelo tempo como o fazia pelos defesas: com olho vivo e pé ligeiro.

Voltou a Lisboa para que em Alcântara, no Atlético, também ganhassem com a sua presença, mas era cedo para parar. Mafra e Igreja Nova ainda o esperavam. Recuara no terreno, nunca no talento, nem na inteligência. Já estava além dos 40 quando ajudou o Igreja Nova a subir de escalão. E voltou a Mafra, onde não prescindem da sua sabedoria simples para trabalhar: com guarda-redes, com as crianças, com todos. Em Portugal casou e teve duas filhas. Talvez porque fora o primeiro, ficou mais próximo do Benfica, embora receba carinho onde quer que regresse. Se fizesse fortuna como faz amigos seria líder destacado na lista da Forbes para as maiores fortunas do Mundo. Já era Chiquinho antes do futebol. Nunca deixou de o ser, nem de jogar. Genuíno, sem máscaras, nem golpes baixos, também por isso é intemporal. Porque o que é bom não tem idade.

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